Histórias e Causos de Morrinho

Os Perigos, os Milagres e o Sacrifício da Comunidade no Vale do Ribeira.

A Fé Contra os Perigos do Rio Juquiá

Antes da concretização da estrada, o Rio Juquiá era o único meio de acesso ao templo, tornando a jornada uma prova de fé e coragem para as famílias. Os participantes do Morrinho Online relataram momentos dramáticos que marcaram a memória da comunidade:

  • O Barco que Quase Virou: Em uma ocasião, o barco grande, transportando dezenas de pessoas, foi levado por uma forte correnteza, quase virando com os passageiros a bordo, até que a embarcação parou e a comunidade conseguiu se segurar no capim e nas margens. O Reverendo Miguel Garcia testemunhou a experiência "marcante".
  • O Resgate do Garoto: Antigamente, as mulheres costumavam ir à praia do rio para lavar a louça. Em um desses momentos, o filho do Reverendo Isac Silvério (Eliseu) caiu no rio. Ele foi prontamente salvo pelo jovem Erinaldo (que mais tarde se tornou presbítero na igreja de Juquiá), demonstrando o espírito de vigilância e socorro mútuo da comunidade.

A Dificuldade da Jornada

Chegar a Morrinho era uma tarefa de alto esforço, especialmente em épocas de chuva e antes da abertura completa do acesso por terra. A comunidade precisou de persistência para superar as barreiras geográficas:

  • As Longas Viagens: Famílias inteiras, como a de Dona Vicência e do Rev. Miguel Garcia, percorriam o rio de canoa por horas, numa jornada que levava quase o dia inteiro, com paradas estratégicas na praia para compartilhar refeições e comunhão.
  • O Batismo na Lama: O Evangelista Saulo de Oliveira relembrou a dificuldade de sua primeira chegada em um ano chuvoso, onde o carro precisou ser deixado na margem do rio. Ao sair do veículo, ele afundou na lama "quase até o joelho", evidenciando o quão penoso era o acesso por terra.

O Testemunho da Proteção: Cobras e a Graça Divina

Apesar de Morrinho estar localizado em meio à mata, o que representava o perigo constante de encontros com animais peçonhentos, a comunidade compartilha um testemunho de proteção.

  • Cobras nos Ranchos: Participantes relataram encontros com cobras como jararacas e jaracuçus em locais inesperados, como no telhado da cozinha, e até mesmo uma jararaca que passou perto da mão de uma irmã na beira da cama.
  • O Veredito da Fé: Apesar dos inúmeros encontros, o testemunho unânime é que "nunca ninguém foi picado por uma cobra ou por um outro bicho peçonhento" no Morrinho, um fato atribuído à proteção divina.

A Concretização do Caminho do Morrinho

A estrada de acesso ao Morrinho foi resultado de um esforço comunitário. A primeira fase se limitava ao "Porto da Goiaba", exigindo travessia por canoa. A estrada final (a que chega ao até o Morrinho) foi concretizada por iniciativa da igreja e da comunidade. O Reverendo Evandro Luis foi uma figura fundamental para liderar o esforço, coordenando o trabalho que permitiu "rasgar o barranco" e construir o acesso por terra definitivo.